quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Ela cidade grande, ele interior

era um moço e uma moça.
ele um menino moço,
ela uma moça mulher.
tinham a mesma idade,
tinham vidas diferentes.

um dia o moço encontrou a moça pela internet
e decidiu chamá-la para conversar.
ela desandou a falar.

ela cidade grande,
ele interior.
ela vermelho,
ele azul.
ela gavião,
ele porco.
ele Darwin,
ela Shakespeare...

mas o papo era longo,
os risos, bobos,
a saudade, tamanha,
as noites, sem sono,

e a espera. 
e a vontade:
ele queria,
ela também.

encontro marcado.

moço e moça
e o desconhecido.
estavam apaixonados
e era pelas ideias,
pelos sonhos,
pelas escolhas um do outro.

suas almas se amavam,
seus corpos não se conheciam.

o moço e a moça estavam juntos,
e dessa vez não era virtual:
os olhares se conheceram,
as bocas se conheceram,
as mãos se conheceram.

era estranho.
não era a química que virava amor,
era o amor virando a química

mas ela queria,
ele também.  

havia ainda obstáculos:
viagem longa,
dinheiro curto,
meses lentos,
encontros rápidos,
amor bastante,
tempo pouco.

era amar em conta-gotas,
a contar horas,
a contar dinheiro,
contar com a sorte.

foi então que a moça,
querendo o moço,
e o moço,
querendo a moça,
resolveram ficar juntos
– ainda que distantes,
por todo o tempo
que o querer durasse.         

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Regras de etiqueta para viver um dia ruim (cuidado: texto de autoajuda!)

O fato é que alguns dias são ruins, e isso é igual pra todo mundo. Minha sobrinha de 5 anos tem dias ruins, o cachorro da vizinha tem dias ruins, e até as coisas, às vezes, parecem ter dias ruins (como aquele porta retratos que insiste em cair, ou as flores, as cores, os elevadores que murcham, desbotam, quebram).

O que fazer então, quando um dia ruim acorda cedo e vai com você para o trabalho?

A regra é simples: o dia ruim é seu e, por isso, você pode fazer o que quiser com ele!

Uma opção muito fácil seria disfarçar e não permitir que ninguém soubesse, afinal de contas, as pessoas ao seu redor não têm culpa por ter acordado assim, cada um tem seus problemas e seus dias ruins e, nem por isso, saem descontando em todo mundo. Poderia sorrir, mesmo querendo chorar porque se atrasou, bateu o dedinho do pé na beira da cama, o chuveiro queimou, a gasolina do carro acabou e a conta do cartão de crédito chegou; poderia ficar quieta, mesmo querendo gritar com todos os que estão sorrindo à sua volta: o chefe, o professor, o marido, a mãe; poderia ouvir uma música alegre e que sempre te deixa feliz quando ouve, e te faz esquecer de tudo; poderia comer chocolate, tomar sorvete, beber à noite com os amigos, se concentrar no trabalho, nos pássaros, nas crianças para distrair e tentar mudar este dia ruim...

Mas, se você está tendo um dia desses, por que não deixar o dia dos outros ruim também?

Comece não desejando “bom dia” a ninguém! Reclame sozinha – mas alto, para que as paredes, janelas e colegas de trabalho escutem. Além de gemer de dor - física ou mental - e utilizar o teclado do computador como instrumento musical, fazendo ecoar pelo ambiente o som doce de seus dedos respondendo um inocente e-mail.

Use a sua cara mais feia, aquela com expressão de dor, misturada com raiva, tristeza e muita, muita autopiedade – até porque é preciso ficar muito claro ao mundo que está tendo um dia ruim.

Espere que ninguém tente te agradar, ou que tente (não sei bem o que é melhor – ou pior). Se alguém tentar te agradar, oferecendo-lhe chocolates, olhares compreensivos e boas piadas para te distrair, esforce-se para não gostar. Rejeite o chocolate, desvie o olhar e controle a risada. Agora, se ninguém tentar te agradar, seu dia ruim se tornará péssimo, pois isso indica que ninguém notou o seu humor, apesar de tê-lo mostrado de todas as maneiras possíveis. Ou então notou, mas não se importa!

Ao almoçar reclame da comida, das pessoas no restaurante, do restaurante e do sol. Sim, o sol. Como o sol ousa aparecer num dia desses? O sol, assim, tão feliz, tão quente, tão amarelo! Não tem nada pior do que um dia quente e amarelo de sol num dia ruim. Bons mesmos são dias de inverno com chuva. Isso sim é cenário para um dia ruim. O cinza, o chão molhado, o frio. Além de reclamar do sol, feche as cortinas e ligue o ar condicionado. Deixe o ambiente bem gelado e escuro. Não se importe se as pessoas ao seu redor querem ou não que o ambiente esteja assim.

Após um longo dia tentando dividir com as pessoas a sua volta um pouco do seu dia ruim, de ter conseguido deixar o clima de seu trabalho pesado, as pessoas distantes, de não ter visto todas as coisas boas que aconteceram ao seu redor... você deve chegar em casa satisfeita e mais leve, afinal de contas, você deixou todo o seu mau humor no ambiente em que estivera o dia todo. Jante, tome um banho relaxante, ouça uma música boa, ou assista TV, ria um pouco e vá dormir.

No dia seguinte, espere que o dia ruim não esteja em seu quarto novamente, que as pessoas do seu convívio tenham entendido que tudo não passou de um dia ruim na sua vida, e que você até é uma boa pessoa, apesar de ter se comportado de tal maneira no dia anterior, se dando o direito de “enfiar goela abaixo” de todos o SEU dia ruim, e então tenha um bom dia...

até que o próximo dia ruim chegue, pois o fato é que alguns dias são ruins, e isso é igual pra todo mundo.